dezembro 05, 2008

PARA PENSAR

A PALAVRA COMO FORMA DE LUTA: A FORMAÇÃO DE JOVENS LÍDERES TERENA

* Jacqueline Regis Soares

Em 05 de outubro de 1988, com a promulgação da Constituição Brasileira, inicia-se uma etapa de mudanças significativas na forma jurídica e política de inserção das populações indígenas no Estado Nacional.

Com a nova Constituição, obteve-se o reconhecimento legal da organização social indígena e do direito dos índios, suas comunidades e organizações de ingressarem como partes legítimas, em juízo em defesa de seus direitos e interesses (Capítulo VIII da Constituição da República Federativa do Brasil – 1988), o que suscitou mudanças na ação política dos indígenas no campo das relações interétnicas.
Observa-se então, que o movimento indígena em nosso país tem sido estimulado pela própria dinâmica do movimento, cujo alicerce de sustentação política adota como referência as ações indígenas locais e regionais experimentadas em contextos interétnicos específicos.


Os Terena descendem do grupo lingüístico Aruak/Txané, da Tribo Guaná, inicialmente dividida em várias sub-tribos, originários da região do Chaco. Suas aldeias estão situadas nos municípios de Aquidauana, Miranda, Nioaque, Dois Irmãos do Buriti, Dourados, Anastácio, Sidrolândia e Rochedo, com uma população aproximada hoje de 23.000 indivíduos. Existe ainda uma aldeia terena no município de Bauru, denominada Araribá, constituída por indígenas que foram levados para aquela região no período de aldeamento (primeiras décadas deste século) pelas equipes de Rondon.

Para entendermos a participação indígena em mecanismos políticos com o pressuposto de estabelecer a tão desejada autonomia dos povos indígenas. É preciso compreender o processo de reconhecimento de jovens líderes, constituído através das relações interétnicas e da valorização de novos atributos de liderança, como por exemplo: ler e escrever na língua portuguesa, ter conhecimentos do aparelho administrativo e político do Estado Nacional, ter acesso a autoridades governamentais, ter parceiros não indígenas dispostos a apoiar os direitos e os interesses indígenas, como também saber utilizar a língua para a construção de um discurso com intenções políticas definidas, ou seja, usá-la intencionalmente para veicular como forma de legitimação de suas posições na sociedade nacional e também no próprio movimento indígena.

A interetnicidade a que o povo Terena está sujeito, provocou alterações no modo de liderança na comunidade. Antes do contato com o não-índio as lideranças terena tinham como característica a ascendência Naati, ou seja, somente os membros desse extrato social (Naati) poderiam exercer a liderança.

Em 1998, uma nova conjuntura política se estabelece em Mato Grosso do Sul pautada pela participação popular. Assim, uma nova liderança surge entre os Terena e rompe com os líderes da época que detinha o poder por décadas. Sobre isso, Claudionor Miranda, administrador regional da Funai, em seu discurso na Aldeinha em Anastácio, no dia 15/08/2007 declara: "a Funai esteve 30 anos nas mãos de uma família, mas agora a Funai é nossa".

Enfim, líderes oriundos de outros extratos sociais estão ascendendo ao poder de liderança, atualmente, devido ao melhor atendimento aos requisitos exigidos para uma precisa mediação entre índio/não índio neste ambiente interético, sendo isso expresso através de sua fala, pois o domínio do ambiente do discurso do outro e do ambiente do discurso indígena lhe proporciona uma respeitabilidade em ambos os lugares, fazendo com que ele seja um mediador por excelência.